No maior público do clube no ano, humor da arquibancada muda junto com os rumos da partida e deixa ainda mais especial a vitória que garantiu matematicamente a vaga na elite
Por Davi Barros e Thayuan Leiras — Rio de Janeiro
16/11/2021 02h00 Atualizado há 7 horas
Foram muitas as emoções que o Estádio Nilton Santos presenciou na última segunda-feira, tarde que marcou o retorno do Botafogo à Série A do Campeonato Brasileiro. Em um dia de sol firme, 30ºC, bem com cara de Rio de Janeiro, a torcida encheu as arquibancadas e viveu uma montanha-russa que só o fanatismo por um time de futebol é capaz de proporcionar.
A oscilação de humor foi constante, seguindo o ritmo do próprio jogo, que passou da frustração à alegria em menos de 45 minutos. Seja para a bronca ou para a festa, o barulho persistiu, numa energia que fazia falta há quase dois anos. Esse foi o primeiro jogo em que se permitiu o estádio cheio. Ao todo, 29.990 ingressos foram colocados à disposição, e mais de 25 mil pessoas foram ao Nilton Santos.
Elenco do Botafogo se empolga com plaquinha da torcida: "Bem-vindo de VoltA" — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Conforme a vacinação avança e os números de casos e mortes cai na cidade do Rio, o torcedor viveu um dia ao menos próximo da vida normal. Entorno movimentado, bares cheios, animação que vinha desde os vagões do trem. Um mar de gente se aproximava do estádio, tomava cerveja e comia aquele churrasquinho. O som de Beth Carvalho nas caixa de som era uma prévia do carnaval que a torcida quis antecipar para 15 de novembro.
O sol foi ingrediente para dar ainda mais cor para um dia que já era de otimismo total, sem espaço para um placar que não desse o acesso. O sentimento era tão grande de que tudo daria certo que chegou a intoxicar tanto a torcida quanto os jogadores.
Ônibus do Botafogo foi recepcionado com muita festa pela torcida — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Ao menos essa foi a percepção de quem viu o comportamento geral. Tanto que a apreensão tomou conta do ambiente logo nos primeiros minutos de jogo. A aflição não era sobre o futuro do clube na temporada. Afinal, a confirmação do acesso era questão de tempo. Tinha mais a ver com o receio de que algo pudesse estragar aquela festa que foi escolhida para acontecer no Nilton Santos.
Da apreensão, os alvinegros passaram para a bronca quando não puderam ver cara a cara o time que deu tantas alegrias pela tela da televisão. O Botafogo que embalou na Série B não se fez presente em boa parte do jogo. Mais do que uma atuação ruim, foi nervosa, como se os próprios atletas sentissem o peso da expectativa. Até porque a maioria deles teve a primeira oportunidade de vestir a camisa alvinegra diante de um estádio cheio.
O time chegou a ouvir vaias no meio do segundo tempo, pouco antes de começar a construir a virada. Foi quando os protagonistas que chamaram a responsabilidade em toda a campanha começaram a aparecer. Rafael Navarro, Chay e Enderson Moreira, os nomes do Botafogo na Série B de 2021.
Foi a partir das mudanças do técnico que o Bota passou a reagir no jogo, mais precisamente por dois nomes. Primeiro, Carlinhos entrou quando faltou perna para Hugo e deu outro gás na lateral esquerda. Depois, com Matheus Frizzo, de quem saiu a bola para Navarro marcar o gol da classificação, o 14º do atacante no campeonato. Sobre Chay, ele também foi de altos e baixo, mas ressurgiu ao dar o passe para o gol do 1 a 1. Um lance que exigiu tudo do meia. Ele deixou o campo quase sem conseguir andar logo depois.
Torcedor do Botafogo chora na arquibancada do Nilton Santos após acesso — Foto: André Durão
O lamento com o gol perdido. O susto com a bola adversária que levou perigo. O grito de gol que vem mais forte com a euforia de uma virada. Sons e movimentos que fazem parte do futebol, mas estavam esquecidos em meio aos momentos mais graves da pandemia da Covid-19.
A massa alvinegra acompanhou e reagiu a tudo isso. Houve desabafo, mas também apoio no momento de necessidade. No final, a adrenalina fez a arquibancada extravasar. A vitória não veio com a atuação consistente que o torcedor esperava, mas teve a emoção que, passado o susto, fez o ingresso valer a pena.