Tricolor não disputava a competição desde 2013 e o desempenho contra o River Plate mostrou que o reencontro pode ser promissor.
Foto:André Durão
A expectativa muitas vezes é a maior vilã dos reencontros. A decepção pode estar escondida em uma gaveta, num olhar enviesado ou no bico da pequena área. Um pouco assim se sentia o torcedor do Fluminense, distante da Libertadores da América há oito anos. O coadjuvante, na verdade, costumase comportar como protagonista: o River Plate vencedor de Marcelo Gallardo, que não é afeito a participar de festa alheia.
A ocasião, é claro, merecia um Maracanã pulsante e coberto de pó de arroz, mas vivemos uma época nada festiva. No que concerne aos assuntos exclusivos da pelota, o Fluminense deu uma grande demonstração de força. Não houve atuação de luxo, isso todos vimos, mas enfrentar o River Plate atual da forma como a equipe de Roger Machado conseguiu é uma lufada de perseverança nos corações que latem em três cores.
Se a partida já se mostrava encardida de véspera, o desnecessário pênalti cometido pelo arqueiro Marcos Felipe deixou o cenário ainda mais nebuloso. E os millonarios se impuseram naturalmente, da forma como se habituaram nos últimos anos, com a pelota escorando-se de pé em pé, mas praticamente sem conseguir transpor a barricada capitaneada por Luccas Claro.
Fred "engraxa" chuteira de Cazares após gol do Fluminense — Foto: André Durão
O River Plate, que controlara bem o intrépido Kayky, já parecia contente em colocar a bola para dormir e não contava com a aparição de Cazares, que precisou de pouco mais de meia hora para se transformar no destaque da partida. Alguém precisa, afinal de contas, conduzir as cerimônias e intermediar os reencontros. E um outro alguém precisa sacramentá-los: teremos todos mais de setenta anos, estaremos jogando damas em alguma tarde vadia na Praça da Alfândega e um rádio escandaloso ainda vai continuar gritando mais um gol de Fred, que nasceu para as redes como um pesqueiro para o mar.
O ponto conquistado pode ser precioso num grupo difícil, que conta ainda com os colombianos Junior e Santa Fe, mas emblemático mesmo foi perceber os tricolores acabarem a partida sentindo-se no direito de lamentar a vitória que não veio -- os últimos minutos assim os autorizam. Oito anos, vejam bem, não é qualquer volta na quadra. É tempo suficiente para nutrir as mais robustas ansiedades. E também para lembrar das cantorias passadas, de Washington flanando na grande área e da quase epopeia -- o quase também entra para a história. O reencontro pode não ter acontecido como as mentes mais ousadas haviam desenhado, mas já rendeu um certo brilho no olhar.